"Vai ajudar muito no meu trabalho"
"Ainda não digeri esta vitória. Não estava à espera", disse aos jornalistas em Lisboa, no final da cerimónia do anúncio do prémio, o mais importante na área da fotografia, no valor de 40 mil euros.
A sessão decorreu no Museu Coleção Berardo, com a presença dos quatro finalistas, do colecionador Joe Berardo, e de representantes do BES, mecenas do galardão.
"Quero desfrutar do valor do prémio, não só monetário, mas a nível global, pela importância que tem", acrescentou o galardoado, que obteve a unanimidade do júri.
O júri justificou a escolha pela "forma como a série revela a entrega do artista à realidade das pessoas que habitam os espaços retratados, ao mesmo tempo que transmite uma perspetiva histórica e sociológica da realidade contemporânea moçambicana, através deste bairro da capital".
Mauro Pinto, nascido em 1974 em Maputo, onde vive e trabalha, mostra trabalhos em Lisboa pela terceira vez. Já realizou exposições em França e no Brasil.
Os outros finalistas desta edição do prémio eram Duarte Amaral Netto (Portugal), Rosangela Rennó e o Coletivo Cia de Foto (ambos do Brasil).
Iniciativa do Banco Espírito Santo, o prémio é organizado em parceria com o Museu Coleção Berardo e a Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Pela primeira vez, o vencedor não é um artista português.
No ano passado, o galardão foi alargado a artistas de nacionalidade brasileira e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
O júri internacional que escolheu o vencedor foi composto pela curadora e investigadora Dominique Fontaine (Montreal), o curador e diretor do Wiels Arts Center for Contemporary Art, Dirk Snauwaert, de Bruxelas, e o curador e professor Ulrich Loock, de Berlim, ex-diretor dos museus Kunsthalle Bern e de Serralves.
Mauro Pinto apresentou uma série de 12 fotografias captadas no bairro da Mafalala, em Maputo, onde nasceram figuras importantes do país, como o futebolista Eusébio e o poeta Craveirinha.
Intitulada "Dá Licença", a série revela o interior de casas, sem qualquer presença humana, mas cujo recheio - desde móveis, sofás esfacelados, brinquedos, eletrodomésticos antigos e outros objetos pessoais revelam a intimidade dos residentes.
"Sinto-me muito feliz por ter representado Moçambique", comentou ainda Mauro Pinto em declarações à agência Lusa, acrescentando que regressará a Maputo no domingo, e que "a festa vai ser em Mafalala".
"Dá Licença" é um projeto inédito realizado em três meses, no ano passado, depois de ter sido selecionado para finalista do BES Photo. As 12 imagens foram escolhidas entre mais de uma centena de fotos do interior de outras tantas casas do bairro.
Mauro Pinto disse ainda que o destino a ser dado ao dinheiro do prémio "vai ser pensado" com os dois filhos, de dez e oito anos.
A exposição das obras inéditas dos finalistas foi inaugurada a 14 de março, no Museu Coleção Berardo, e irá depois ser apresentada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre junho e agosto deste ano.
Helena Almeida conquistou a 1.ª edição, em 2004, seguindo-se José Luís Neto, Daniel Blaufuks, Miguel Soares, Edgar Martins, Filipa César e Manuela Marques, vencedora no ano passado.